15.6.05
ADEUS
J� gast�mos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou n�o chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gast�mos tudo menos o sil�ncio.
Gast�mos os olhos com o sal das l�grimas,
gast�mos as m�os � for�a de as apertarmos,
gast�mos o rel�gio e as pedras das esquinas
em esperas in�teis.
Meto as m�os nas algibeiras e n�o encontro nada.
Antigamente t�nhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
�s vezes tu dizias: os teus olhos s�o peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram poss�veis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aqu�rio,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje s�o apenas os meus olhos.
� pouco mas � verdade,
uns olhos como todos os outros.
J� gast�mos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
j� n�o se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
s� de murmurar o teu nome
no sil�ncio do meu cora��o.
N�o temos j� nada para dar.
Dentro de ti
n�o h� nada que me pe�a �gua.
O passado � in�til como um trapo.
E j� te disse: as palavras est�o gastas.
Adeus.
Eug�nio de Andrade
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